Eles, tempo e saudade




Ponto final. Eu queria terminar minha vida aqui. Apenas escrever “fim”, deitar, escolher uma pose para morrer e pronto, acaba. Queria não precisar fazer escolhas, ou ao menos não me iludir que eu tenho o direito de fazê-las. Meus passos já foram escritos, desenhados, rabiscados... Quisera eu que os fossem apagados...
- Papai, papai!
- Saia.
- Não papai, o vizinho está te chamando, papai, parece ser urgente.
- Eu não o suporto. Saia.
- Mas papai...
- Saia! Quantas vezes...
Não consegui terminar mais um dos meus discursos infundados, mas nem por isso pouco mordazes. Ouvimos alguns gritos que penetraram a sala pela janela entreaberta, sem que antes os vidros tremulassem. O agudo daquele som que em um dia comum eu ignoraria, naquele momento me trouxe arrepios; não pense, ingenuidade, que não gostei da sensação.
- Vamos ver o que está acontecendo, sempre soube que esse lugarzinho abandonado não era bom o suficiente.
Meu filho segurou firmemente a minha mão e seguimos em direção à rua quase abandonada de onde supomos vir os gritos. Meus sentidos talvez houvessem me traído, o que já não me surpreendia. Olhamos freneticamente para ver se algo ocorrera, e por instantes pensei que não era uma boa ideia ter o meu filho ali. O vizinho que havia me chamado não se encontrava mais ali.
A rua estava vazia, a única inferência na perfeita simetria das árvores dispostas em ambos os lados do asfalto mal pavimentado era um relógio quebrado que se encontrava no chão, a uns quatro passos de nós. A maquinaria encontrava-se intacta, o que me incomodou bastante.
Parei e fiquei olhando aquele objeto que nunca me afeiçoara muito. Nunca gostei de relógios, eles me prendem, eles têm o poder que eu gostaria de ter, tornaram-se meus inimigos em dois momentos que viriam a se repetir por toda a minha vida – a sua também, ressalto-: Primeiramente, quando eu queria que o tempo cessasse por um instante, só para o melhor momento da minha vida se prolongar um pouco, bem pouco (claro, ele só significa o que significa por ter sido momentâneo), e agora, que eu ainda quero que o tempo torne-se finito, e a sua magnitude e força que emana sobre todos, pare por aqui... Mas uma fez, fim.
Quimeras. Eu tinha essa força.
Meu filho se aproximou do objeto com passos lentos, observou-o em curto período de tempo e, para romper com a minha análise, se voltou para mim e olhando fixamente para a bandeira que estava hasteada pouco atrás do meu corpo, disse:
- Podemos ir embora, papai?
Não hesitei, também não o respondi. Apenas me virei e comecei a andar com passos apressados. Ele me seguiu e pela primeira vez tive um momento em silêncio com ele ao meu lado.
Da onde viera aquele grito? Aquilo mexera mais com o meu filho do que comigo. Não gostava de tê-lo em casa, ele era uma criança como qualquer outra, logo eu não gostava do seu comportamento. Mas ele estava quieto, contido, adestrado por um grito que na cabeça dele deveria ter vindo de um relógio. Na minha, todos os meus pensamentos tinham uma paisagem sonora, um tiquetaquear agudo, frio, incômodo. A presença do meu filho extinguia-me.
Nunca gostei desse local, nem das pessoas (mas não há lugar que mudará essa minha repulsão humana). Por que eu não me mudo? TIC TAC. Eu poderia ir para a cidade, ela precisa de mim. TIC TAC. Meu filho iria junto, mesmo que lá as pessoas não tenham sensibilidade de entendê-lo.
Por que meu filho não gritara ainda? É comum ele me interromper quando estou refletindo sobre qualquer coisa sem importância. Aliás, já são 20h, onde esse moleque anda? É um pequeno idiota mesmo, desde que nasceu eu soube que não teria muito futuro, logo ao nascer já se tornou um assassino, me trouxe desgosto no primeiro momento de sua vida. Não é inteligente, atlético, engraçado ou atraente... Além de tudo é totalmente pusilânime. Ninguém gosta de senti-lo.
Nesse momento descobri como a dor pesa, carregava nos ombros o desgosto de um pai, a tristeza de um marido, o medo de uma criança, o tempo do mundo. Descobri o olor da derrota de um homem fraco, vencido pela vida e por minuciosos acontecimentos os quais me sufocam. Queria ser homem para chorar, mas não pude. Só homens fortes choram.
De sobressalto olhei pela janela e encontrei uma multidão que eu nem sabia que existia. Na minha cabeça o maldito relógio não me abandonava, mais frequente, mais doloroso. No chão um corpo caído, mas não pude ver o rosto de quem era; o que importa? Eu não o conheceria mesmo. Ao invés do rosto, via apenas o relógio ao lado, em perfeito estado, e ao redor dele duas pequenas mãos que não me eram estranhas.
Grito pelo meu filho, passo mal. Todo o meu sangue está preso na minha garganta, as palavras se foram. Ele não vem mais, não é? Responda-me! Eu o sinto, ele está comigo...
A voz insuportavelmente aguda e infantil que eu pensara nunca mais ouvir rompeu em repetitivos chamados, juntamente com a mão suave que limpava a minha face da lágrima que estava escorrendo. Papai! Vamos andar de bicicleta, a rua está calma, não tem perigo. Por que você está no chão?
Parei. Olhei no relógio e vi uma hora inexistente, olhei para o meu filho um pouco mais maduro e para as minhas mãos machucadas. Aceitei o convite.
A rua realmente estava calma; eu, agitado.
O que aconteceu aquele dia viraram memórias enfumaçadas na cabeça do meu filho. Na minha só mais um ponto final. O grito foi um assassinato de simples resolução, meu vizinho que tinha morrido. Pouco importa. Mas... Por que ele me chamou? Só mais um ponto final.
Acho que posso escolher agora quando eu quero morrer, é só escrever fim. Não existem relógios mais, não existem cores para preencherem a fotografia da minha vida, quem decide em que momento cada coisa acontecerá sou eu. Não sou concreto, posso morrer sem lhe virem lágrimas, você não notará.
Enquanto a você, viva a meu gosto, é a sua única alternativa.
Vou partir para perturbar quem precisa de mais tempo, os de menos também. Pelo simples fato d’eu poder fazê-lo. Agora que sabe quem eu sou, olhe que horas são, olhe rápido, pois já parto.
Ainda há de haver tempo, ainda há de haver saudade.

Uma lágrima composta de alegrias

Porque o ser humano é tão complexo? Um paradoxo que ama e odeia ali, no mesmo momento. Somos na verdade apenas uma réplica de um arco íris, que resolveu unir o que é sorriso com o que é pranto, a perspicácia da chuva com a idolatria do sol...

A princípio parece apenas uma gota que precisa delicadamente percorrer nossa face, apenas um respingo que leva consigo vários pensamentos, sofrimentos e emoções. É essa a grande simplicidade de uma lágrima. É através dela que falamos o que somos incapazes de proferir verbalmente, talvez por falta de coragem ou somente por não encontrar como se expressar.

Então choramos.

Cada um de um modo, chorando silenciosa ou freneticamente, chorar de felicidade ou de tristeza, de dor física ou psicológica. Dependendo da situação a lágrima vem, sem mais nem menos, e ao notarmos, estamos com os olhos encharcados do que pode ser o banho da nossa alma ou o nosso morrer afogado. Talvez por uma perda, uma conquista, uma revolta... Os olhos estão ali, fadados a ceder ao mundo a água por ele benta.

Mas a complexidade dessas lamúrias pode ser maior do que cogitamos. Ela pode, ao escorrer, ser delicada por levar consigo apenas ocasiões fáceis, são essas as lágrimas injustificáveis, lágrimas tolas. Mas podem também ser pesadas, dolorosas, torturantes, são essas que trazem o martírio das mais tristes e infames causas, significam, do modo mais enfadonho possível, as lágrimas que carregam toda a tristeza do sofredor, tristeza essa acumulada por toda a sua vida, são lágrimas verdadeiras.

Mas para tudo isso há o sorriso, sorriso esse que rejuvenesce, que oferece vida a mais moribunda das criaturas, sorriso esse que glorifica e faz tudo valer a pena. Basta um sorriso vindo da nossa melhor parte (e não apenas dos lábios) para que saibamos o quanto é bom estar aqui, nesse momento, e que o passado é apenas esfumaçadas páginas que ambicionam o presente, mas no presente, ah, o meu presente, eu decido sorrir, para assim, amanhã, eu ter alegria me rondando, e meu sorriso estará carregado desse passado tão conveniente.

Então escolhemos sorrir.

Assim, serei uma simples mistura de mim mesmo... Alegrias e tristezas, turbulências e calmarias, apego e ignorância, entre mim e você e resolvemos seguir a vida, sem entendê-la, mas usufruindo de todos os extremos que podemos: da felicidade repentina a desilusão, dos melhores sonhos e ao acordar, os piores pesadelos. Talvez queiramos jogar sobre as nossas hipérboles um manto para secar nossas tristezas e assim, termos o direito pleno de falar “Eu? Eu sou totalmente feliz”.

Se puder escolher, sorria, se o pranto lava a alma, o sorriso a mantém limpa, se puder escolher, escolha sorrir nos momentos mais difíceis e então perceba o que significa a felicidade, não a felicidade plena, pois essa é utópica, mas a felicidade pura, aquela que oferece-lhe o direito de chorar durante anos e depois sorrir como se nada tivesse ocorrido.


"A felicidade consiste em preparar o futuro, pensando no presente e esquecendo o passado se foi triste." (John Ruskin)

Alessandra


Nuances verde, amarelo e... preto.


Ultimamente, devido a Copa do Mundo, vivenciamos um Patriotismo que não é característico do brasileiro, mas então, até onde isso vai?

Brasil, um dos mais desenvolvidos países da América do Sul é responsável por envergonhar boa parte de seus cidadãos, mas a recíproca é verdadeira. Falta de infra-estrutura básica, educação, saneamento, corrupção, analfabetismo, pobreza em excesso são apenas alguns dos problemas mais eminentes nesse país. Mas, quem mudará isso, se não nós, típicos brasileiros?

Procurando algumas coisas pela internet, deparei-me com comunidades de uma ignorância invejável, algo tão, mas tão estúpido que minha repugnância foi ao auge, sobretudo ao descobrir que existe um movimento para a extinção da Língua Portuguesa (M.E.L.P.). O fato de alguns não saberem diferenciar “mas” de “mais” não é culpa da língua e nem por isso devermos extingui-la e falarmos inglês, por que, ah, o inglês sim é uma boa língua. Pro inferno. Uma das línguas mais ricas é a nossa, e para os que afirmam que “só o Brasil e Portugal falam essa lingüinha de ‘merda’”, informem-se já que essa é a quinta língua mais falada do mundo... Mas desculpem-me, não dá manter uma conversa respeitosa com alguém que escreve “braziu”, ou algo assim e seus melhores argumentos me fazem rir.

Nas comunidades relacionadas, encontro outras como “Desprezo a cultura brasileira” ou algo que se assemelha a “odiadores da MPB”. É claro que ninguém é obrigado a ter o mesmo gosto que eu, mas calma lá, como alguém tem coragem de dizer que tudo que foi composto na Bossa Nova foi “devido a bêbados analfabetos que quiseram compor sobre praia”, é claro que traduzi para o Português compreensível, já que nesses dialetos desprezíveis eu sou, ainda bem, analfabeta.

Sabe, meu nacionalismo bate em diversas barreiras que, aí sim, sou obrigada a concordar com esses... É, com esses. Carnaval, funk carioca, micareta e essas coisas, tudo bem, vocês têm razão, mas não abram a boca para falar da “subliteratura vulgar e pretensiosa”, do “folclore pobre” ou dos “filmes toscos”. Para se criticar algo, é preciso ao menos conhecer superficialmente, e pelo pouco que li escrito por vocês, julgo difícil terem passado da pré-escola com honestidade. Ah, e fico feliz de ter gente que pense igual a mim, e a essa ter valido ofensas como “nerds nacionalistas”, ofensas, aham.

A esses que pretendem ficar sentados em frente a um computador mostrando para o mundo inteiro seu analfabetismo e sua ignorância, podem ir embora dessa terra, é o que o Brasil menos precisa. Agora, àqueles que criticam o país a fim de melhorá-lo, minha real admiração. É fácil falar que tudo é uma imundície nesse país, mas é difícil olhar para si mesmo e perceber que você não deu conta nem de aprender a matéria da 2ª série e teve que colar para passar de ano e hoje ainda orgulha-se em falar sobre a péssima educação no país ou a falta de honestidade presente em “todos”. Meus pêsames.

Aliás, um brinde a alienação que dita os valores dos países desenvolvidos como os corretos e indiscutíveis, os admiro pra caramba.

“O Brasil está em nossas mãos, e não adianta lavar!” (Rogério Silvério de Farias)

Alessandra

Futebol: o ópio do povo

Precisamos de uma válvula de escape, certo Freud?

Junho de 2010. Ao parar e pensar no que esse ano marcará, deparo com uma barreira: a Copa do Mundo de futebol, a primeira em solo africano. Mas afinal, até que ponto vale a pena parar um país inteiro para ver um jogo? É só um jogo...

Pois bem, realmente não acho que o Brasil, a América, o Mundo deva parar para assistir a Copa, mas isso não me dá argumentos para atribuir certas características a esse evento, melhor dizendo, a insultá-lo. É o esporte que uni, que ensina o que é trabalho em grupo, objetivo e sobretudo, respeito, sendo que não estou contando o entretenimento.

Vivemos em um mundo podre e me parece que as únicas coisas que tem repercussão mundial são além de atentados e assassinados hediondos, a Copa. Ruim? Creio que não tanto já que ainda há um suspiro de algo que não é tão perigoso, se me permitem dizer. Já nos acostumamos com os outros fatos corriqueiros e para esses não nos esforçamos em abrir os olhos e ver como “o mundo anda tão complicado” (só para citar Renato Russo, é).

Mas é claro que nem todo indivíduo é obrigado a gostar de futebol, claro. Mas respeitem assim como vocês gostariam que fosse respeitado o gosto de vocês e saibam que, como eu, existem pessoas que gostam e torcem pelo futebol e ainda sim acham bobagem paralisar todo um país por causa disso.

Por isso, torçam o quanto quiserem, gritem, pulem, vivam, se pintem, unam a família, os amigos, façam o churrasco e chorem quando for gol do time adversário... Porque depois voltaremos a notar que estamos imersos numa cruel realidade, a realidade humana em que cospem os atentados e os assassinados, e as lágrimas tornam-se excessiva e infelizmente justificáveis.

"Conheço um meio para voltarmos a encontrar a fraternidade com os animais: o esporte." (Hippolyte Jean Giraudoux)


Alessandra

Gratidão infame

Ah, minha vida entorpecida

Meus segredos furtados, meu coração dilacerado.

Despenco em lágrimas e sorrisos mútuos,

Despenco nos teus ombros,

Nos teus olhos, nos teus sonhos.

Lembro dos nuances mais tolos,

Das desavenças incompreensíveis,

Até de palavras soltas sem significados.

Olho pro espelho,

Nada mais que vidro... E o meu refletir,

Nada mais que eu, ali, presa,

Do mesmo jeito que um dia estive presa a você,

A vocês, a mim.

Agradeço pela vida que outrora me fez sorrir,

Lamento pela vida que outrora me fez chorar.

Agradeço o lamento, e lamento a tua gratidão.

Mas de qualquer jeito, Obrigada.

Agora tentarei sorrir

E então, mostrar-lhe-ei minha face,

Mas só uma delas,

Luzindo uma falsa capacidade de ser feliz.

Alessandra

Jogo de palavras


21 de maio: Dia da Língua Nacional

Sou meio suspeita a falar da língua portuguesa por não precisar esconder minha paixão por esse idioma, ou melhor dizendo: pela comunicação. Existem datas comemorativas que não servem para muita coisa, e você deve estar pensando que essa é uma delas. Discordo, aliás. A linguagem é algo tão comum no nosso dia-a-dia que não notamos o quanto ela é importante e nem o quanto é bela e rica.

O português, 6º língua mais falada no mundo, é riquíssimo não só em “bobagens gramaticais”, mas em oportunidades para expressarmo-nos, desse jeito é ela um dos nossos principais meios de comunicação.

Cada palavra é diferente de outra, cada uma tem uma peculiaridade, uma força única. Explica-se minha paixão? Foi com essa língua romântica que disse minha primeira palavra, são com elas que desabafo, exponho minhas ideias... Será que são mesmo “só palavras”?

Muitos dizem que palavras sem atos não valem de nada. Até certo ponto concordo, mas em outra perspectiva definitivamente não defendo isso. As verdadeiras palavras são mais do que símbolos lexicais, são na verdade o modo que encontramos de tirar de nosso cérebro nossos pensamentos, do coração nossos sentimentos e pela boca exprimi-los. Palavras que são só palavras, são, na verdade, apenas rabiscos que nada significam, já que não tem fundamento real, já que não vem do cérebro, do coração, ou seja lá de qual parte do corpo que você queira.

Não diga que não gosta da Língua Portuguesa. Não diga que ela tem “regras inúteis” ou “pra que eu preciso saber que não se acentua as paroxítonas terminadas em a”. Às vezes é difícil entender a complexidade de uma coisa corriqueira, mas pare um momento e imagine se você não pudesse de comunicar.

"Uma palavra bem pronunciada pode economizar não só cem palavras, mas também cem pensamentos." (Henri Poincaré)

Alessandra

Me faz falta


Sinto falta dos olhares cinematográficos, dos olhos mirando o além, da observação da simplicidade. Sinto falta da inocência da criança com seus olhares, seu foco simplório e medíocre do mundo, sua análise a partir de uma realidade banhada de sonhos e realizações. Sinto falta de abrir meus olhos.

Sinto falta do cheiro da minha infância, dos aromas do primeiro enamorado, dos olores da grama em um breve feriado, da fragrância que ambientava minha primeira escola, de qualquer perfume que invade minhas narinas quando, por um instante, eu decido desligar-me do mundo. Sinto falta da inspiração.

Sinto falta, não nego, de ter uma joaninha em mãos, de tatear o veludo como se fosse um pedaço do céu, de sentir a água escorrendo pelo meu corpo, notar uma mão sobre o meu ombro, um aperto em mãos calejadas. Um beijo sobre minha face. Sinto falta de sentir.

Sinto falta dos sabores mais exóticos, os venenos mais atraentes, o sabor das tuas palavras incandescentes. Falta-me doces e salgados, o prazer de apreciar um fruto. Sinto falta de provar.

Ah, e dos gritos? Também me faltam, mas não gritos de agonia. Faltam-me gritos de sucesso, palavras sinceras que transmitam algo bom, vozes reais que dizem que está tudo bem, tudo bem. Necessito de músicas que me acalmem, me conduzam. Sinto falta de reconhecer a suavidade dos acordes da vida.

Ou é isso ou eu prefiro entender sobre armas, mortes, xingamentos, ofensas. Ou opto pelo fim, o fim real, o fim que está aqui, a menos de um palmo da nossa realidade. O nosso fim, em que os sentidos não se justificarão por si só mais, em que o beijo é ignóbil, o amor é repugnante e eu, ah eu... Não mereço palavras, assim como você também não as merece, elogios ou insultos vagos, alicerces desprezíveis, humanos.

Hoje eu só quero perder o meu sexto sentido.


Alessandra

O mal do nosso século


Qual seria o nosso principal problema? O comportamento que move a humanidade no século XXI? Pensando sobre isso cheguei a uma simplória conclusão: Temos a necessidade de afirmações, buscamos no material aquilo que sentimos falta, são aos bens capitalistas que apelamos pra preencher uma lacuna extremamente pessoal.

Carência. Carência de atenção do mundo e tentamos supri-la com tantas coisas fúteis e estúpidas... Sejam calças e unhas coloridas a fim de obterem uma matéria televisiva com intitulação “a nova moda teen”, comprar uma mansão caríssima para adquirir status, ou forjar uma depressão... Seja qual for a forma, percebemos que os reais problemas mundiais são bem mais complexos que essa privação humana.

Violência (ao seu semelhante, a natureza, a si mesmo, etc.), fome, guerras e guerras... Mas somos egocêntricos e precisamos de atenção. Precisamos aparecer em rede nacional e falar “um beijo pra minha mãe, pro meu pai, pro meu cachorro, [...]”. O mal do século é, basicamente, a necessidade de coisas inúteis: consumismo exacerbado, meios de gritar “Ei, estou aqui, me filma!”, mesmo que pra isso utilizemos de meios imorais, como assassinatos. Superar isso é, sinceramente, mais difícil do que parece.

"A felicidade é uma estação intermediária entre a carência e o excesso" Henrik Ibsen

Alessandra

Um brinde a hipocrisia, as apologias e ao rancor


"Sexo verbal
Não faz meu estilo
Palavras são erros
E os erros são seus...
Não quero lembrar
Que eu erro também
Um dia pretendo
Tentar descobrir
Porque é mais forte
Quem sabe mentir
Não quero lembrar
Que eu minto também..."
Eu sei – Legião Urbana

Boa noite a todos e a cada um...

Após presenciar alguns acontecimentos, ler alguns textos na internet e buscar estudos referentes à hipocrisia humana, decidi colocar em palavras algumas objeções a respeito.
Pois bem, inicialmente procurei a raiz da palavra a fim de descobrir seu real significado, e compartilhá-lo-ei com vocês.
Hipocrisia: “ato de esconder os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade” (mini-Houaiss – Dicionário da Língua Portuguesa – 3ª edição).
Etimologia: deriva-se do grego – hupokrisía,as; hupókrisis,eós. (tal vocábulo era basicamente empregado para designar a teatralidade, ou seja, o fingimento que o ator apresenta a partir do momento que ele está interpretando um papel).

O comportamento das pessoas perante diversas situações utilizam desse conceito, por mais que seja instintivamente, digamos. Ou seja, a pessoa mais sincera ainda está se adequando aos parâmetros sociais impostos; logo, por que não é um fingimento visto que muitas vezes ela é oprimida? Mas o problema é que é notável que o hipócrita julga, certas vezes, suas atitudes totalmente corretas, incontestáveis. E não o são.
Já fui chamada de cética e comumentemente de inflexível. É, o sou. Mas hoje ouvi algumas coisas que me fizeram pensar e por incrível que parece mudar alguns pequenos pontos de pensamentos. Porque a nossa máscara de “homens ideais” está presa a nossa face com tanta força? Porque é tão difícil desprendê-la e mostrar que ali embaixo existem coisas surpreendentes: erros. Admitir isso é tão bobo mas ao mesmo tempo tão desgastante.
Sempre acreditei que os problemas estavam não apenas no coletivo, mas nas individualidades, ou seja: em você, em mim e em cada pessoa. Não gosto de coletivos, desculpe-me. “Todos” não são iguais. Porque ao invés de pensarmos “os cidadãos devem mudar seu comportamento perante a natureza”, por que eu não mudo e paro de falar? Falar mal de quem desperdiça litros de água não adianta muito, ofensas não levam a lugar algum, ou melhor, leva para o pior deles – algo que suponho estar um pouco abaixo da mediocridade (e nesse caso mediocridade não no sentido de mediano, mas no pejorativo mesmo). Não direi que muitas vezes não me rebaixo a esse nível.
Olhe para si mesmo e mude o seu jeito de ser, não espere dos outros aquilo que você tem certeza que não retornará, não pense em reciprocidade em um ambiente como o que vivemos.
Com o tempo aprendemos e hoje aprendi que não adianta muito dizer “o inferno são os outros” (Jean-Paul Sartre), porque o inferno é o que fazemos dos nossos pensamentos e como os aplicamos na nossa vida, o inferno é você, sou eu. Um inferno particular mas não totalmente descartável, já que ao unirmos todos criamos esse mundo... Criamos isso.
(Há anos perdi a confiança na humanidade, há anos passei a ver as coisas com uma frieza espantosa, mas ela queima tanto quanto se fosse o contrário. E note que frieza não é indiferença. Mas ainda tenho um fio de esperança na minha sanidade...)
Vamos parar de vestir mantos aveludados com fios de ouro e mostrar que por baixo estamos despidos e muitas vezes machucados. Eu não quero fingimentos. Eu não quero encenações. É fácil criticar e é difícil agir assim como é fácil falar. Redimo-me ao ter agido muitas vezes por impulso e um rancor momentâneo ter se prolongado desnecessariamente. Porém, há também o que é necessário, há também o inferno alheio.
Desculpe-me, não é por isso que pretendo esquecer o que é respeito.
Mudança de postura em uma relação não é tão complicado, dependendo. É estupidamente mais fácil do que recomeçar do zero. Eu aprendi a mudar o meu, e acredite: Não é tão difícil. É só não sermos megalomaníacos.

Nota a minha realidade: Não justifico comportamentos de ambas as partes, mas a hipocrisia domina alguns comentários. E condeno algumas atitudes também, pode falar que é isso é imoral, pois eu não acho.

“Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo.”
Confúcio


Alessandra

Apresentação



Apresentações não são lá o meu forte...

Há alguns dias eu tenho pensado em criar um Blog, e resolvi colocar isso em prática. Só mais um Blog, certo? O que lhe fará lê-lo? Provavelmente nada... Dentre incontáveis blogs existentes, o diferencial aqui não tende a ser tão surpreendente. Os motivos são simples: pensamentos não agradam, sobretudo os que tem nexos, se é que me entende. Pitadas de sarcasmo, ofensas educadas e um cérebro também não são lá tão atraentes.
Já deve ter dado pra perceber que não pretendo conter palavras ou ser eufemista quando quiser expressar o que penso, certo?
Pensei em um Blog não tão carregado, com cores claras e visualmente atraentes, uma linguagem infantil e purpurina pelo ar, mas hipocrisia não é lá uma das minhas características. Portanto, enchê-lo-ei de ideias, sãs e fantasiosas, brincadeiras, sérias e medíocres. De modo geral um pouco mais do que você esperaria de uma humana que não atingiu a maioridade ainda.
É bom explicitar logo: Eu tenho necessidade de escrever, e o faço em demasia. Não culpe-me. E perdão se usar alguma palavra que desconheça.
Não garanto, aliás, que entenderas tudo que eu direi aqui. Nem eu me entendo muitas vezes. Esteja a vontade para contestar-me. Gosto disso. Mas tenha limites porque dificilmente eu mudo de opinião e a minha inflexibilidade é mais marcante do que você imagina, talvez um pouco mais que os meus outros defeitos que, acredite, não são poucos.
Não quero assustar ninguém que se depara com esse singelo espaço cibernético, mas também não gosto muito de omissões e mentiras.
De qualquer maneira, sejam benvindos de verdade!

Sobre o nome do Blog: Nexos em devaneios e, agora percebi a pseudo-cacofonia formada ai, então digo-lhe: Não, não é nexo sem devaneios.
Quimeras reais... O meu mundo. Um dia você entende. Ou talvez não.


Obrigada, pessoas, espero que apreciem esse meu nada pessoal.

"Uma vida não questionada não merece ser vivida"
Platão

Alessandra